2 de jan. de 2012

O Sistema de Tropa de Elite 2



“Eu dei muita porrada em viciado, esculachei muito policial corrupto, mandei um monte de vagabundo para a vala, mas não foi nada pessoal, a sociedade me preparou para isso”. Frase dita pelo Capitão Nascimento no início de Tropa de Elite 2.

A violência sempre foi um dos assuntos mais discutidos dentro de uma sociedade (cujo significado em latim, curiosamente, é “associação amistosa com outros”), entretanto como combatê-la ainda é um mistério. Para começar, nem ao menos temos uma definição precisa, já que um ato violento para um, pode não ser representado desta forma para outros, dependendo da estrutura montada de certo e errado, de uma cultura ou sociedade.

A frase ilustrada no começo deste texto e no filme é um ótimo passo para entender um pouco mais sobre a violência que assola atualmente o Rio de Janeiro. Desde criança, somos preparados pela sociedade para taxar tudo aquilo que é correto e o que não é, de acordo com as características sócio-culturais do lugar. Porém, se nesta região, a desigualdade for um fator já incorporado, as formas como tendemos a aprender sobre aquilo que é justo e injusto, são diferentes. Um exemplo disto é um menino que nasce na favela, convivendo com tiroteios, mortes e a ausência de afeto e um outro garoto que vive entre integrantes da classe média, com educação, amor, carinho e com condições de uma vida melhor. Estes meninos acabam sendo influenciados pelo meio em que vivem, sendo, portanto, mais do que uma questão de escolha e, assim, são lançados em mundos completamente opostos.

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças” – Charles Darwin. Para se adaptar a estes mundos, uma pessoa acaba por roubar uma outra para poder se alimentar e ter uma vida melhor, se transformar em um policial corrupto, pelo fato de o profissional dessa área ganhar pouco, tornar-se um traficante para obter dinheiro e matar um ser humano para conseguir as coisas que almejam, dentre outras possibilidades.

No caso do Capitão Nascimento no filme Tropa de Elite 2, seu desejo é combater a violência e, para tal, entra no BOPE (Batalhão de Operações Especiais), combatendo o tráfico, a criminalidade. Contudo, o faz de forma alienada, pois não está mudando para aquilo que ele quer alcançar, acabar com a violência, e sim, está fazendo parte dela. O Capitão Nascimento descobre isto quando consegue visualizar o corrompido sistema, impregnado na sociedade atual. Só que para modificá-lo não é fácil, sobretudo porque é muito melhor você mudar os pensamentos de alguém que ainda não tem opinião do que aquele que já possui, mantendo-a como uma verdade absoluta.
As raízes da violência já estão instaladas e cada lado da história, seja a milícia, a polícia, os traficantes, os drogados, dentre outros, são apenas ferramentas de um sistema muito mais complexo que mantém tudo isto.



“Cada cachorro que lamba a sua caceta”. Frase citada pelo Major Rocha no filme.

O individualismo, natural de uma cidade grande, também é um dos grandes fatores que contribuem para a adoção de comportamentos violentos. Tal constatação funciona como uma espécie de impermeabilidade das pessoas no sentido de sentir e se preocupar com os outros em relação aos acontecimentos terríveis do cotidiano, como um garoto subnutrido na rua pedindo esmola ou uma pessoa dormindo em plena calçada, dificilmente você fará algo por eles e às vezes sequer nota e não é egoísmo por parte do indivíduo, é um mecanismo de defesa para não nos manter deprimidos constantemente com as atrocidades do dia a dia.

De certa forma, este individualismo alimenta a indiferença e repulsa entre pessoas, assim como o medo das mesmas em consideração ao desconhecido. Em Tropa de Elite 2, os sujeitos ali presentes, agem por si próprios, não se pode confiar em ninguém, já que o inimigo pode estar ao seu lado. Um exemplo é quando Nascimento, trabalhando para a Secretaria de Segurança Pública do Rio, descobre estar no coração do sistema e se diz cercado por inimigos.



“O Sistema é foda! Ainda vai morrer muito inocente”. Frase citada pelo Capitão Nascimento no final do longa-metragem.

Dentre as diversas críticas presentes no filme, talvez a mais citada seja a forma como a violência é combatida através da ação policial e judicial. Ao longo do filme, este tema é debatido pelo Capitão Nascimento e pelos deputados, Fraga e Fortunato, onde direitos humanos, a fortificação da polícia e a reformulação do sistema são temas em pauta. O interessante é que todos os temas citados deveriam ser implementados na medida certa e não ficar caracterizada como uma disputa de “um cabo de guerra” para a execução de apenas um destes assuntos.

Todavia, mudar algo da forma como ela ora se apresenta é difícil, como mostra o deputado Fraga lutando por seus ideais no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, nos últimos momentos do longa metragem. A solução está na raiz e, portanto, a lógica é começar a modificar por ela e não cortando as folhas, afinal, nascerão outras. E a raiz da violência possui várias ramificações, como a desigualdade, a criação de um ser e as influências deste meio, restando apenas como solução o combate de todas, mas de forma organizada e sistematizada, mesmo que isto demore.


Obs: Texto originalmente feito para um trabalho de Sociologia.

1 comentários:

genial !!
parabéns pelo excelente trabalho e maravilho texto

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